Atuação do Fisioterapeuta nas Afecções do Quadril no Pedestrianismo e na Caminhada

 

 

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Iremos nos aprofundar hoje em duas lesões específicas que acometem o corredor tanto recreativo quanto o de alta performance, além do caminhante, a corrida podendo também estar presente em outras modalidades como forma de condicionamento, por isso à torna uma das modalidades esportivas mais praticadas dentro do mundo esportivo e lado a lado com a alta demanda da prática, vem também o alto índice de lesões principalmente em atletas de nível recreativo e com falta de preparo. Os maiores índices de lesões são no compartimento do joelho (em torno de 40%), porém nessa postagem iremos frisar sobre os acometimentos no quadril e as condições deficitárias que causam para os praticantes dessa modalidade, podendo ainda agravar as lesões de joelho. Esses acometimentos são: a Síndrome Dolorosa do Trocânter Maior (SDTM) e a Síndrome do Piriforme (SP).

 

O que seria a SDTM e SP?

A SDTM ou Síndrome Dolorosa do Trocânter Maior é uma lesão que acomete de 10% a 25% dos atletas, na maioria o público feminino e de meia idade e é caracterizada por três desordens: Bursite Trocantérica, Tendinopatias no Glúteo Médio e Mínimo e um Ressalto na região Externa da Coxa.

A sintomatologia é dor à palpação, dor durante a corrida ou caminhada, dor ao deitar sobre a perna acometida e perda de força (déficit em abdução). Os fatores de riscos são: discrepância de MMII (acima de 2 cm), overtraining, encurtamento do Tensor da Fáscia Lata e Glúteo Máximo, fraqueza e/ou déficit no controle do Glúteo Médio, lesão prévia de quadril, morfologia da pelve (mulheres) e afecções de coluna.

Ressaltando sobre as desordens, normalmente a Bursite Trocantérica surge de forma primária devido ao atrito do Trato Íliotibial (TIT) com a bursa, gerando microtraumas e causando um desalinhamento antero-posterior durante o gesto esportivo tensionando o tendão do glúteo médio e glúteo mínimo, evoluindo posteriormente com uma fraqueza desse grupo muscular, isso perdurando acarreta em uma Tendinopatia, por conta do atrito constante do TIT na bursa ocorre um Espessamento da bursa e por conta dessa cascata, gera uma falta de controle dessa musculatura abdutora e rotadora lateral, responsável pela estabilização pélvica na fase de apoio da marcha e que pode gerar inúmeras complicações na biomecânica da coluna, quadril, joelho, tíbia e pé, tornando suscetível a futuras lesões.

Agora vamos abordar sobre a SP ou Síndrome do Piriforme, que surge na sua grande maioria por fraqueza da musculatura glútea e por disfunções na marcha, o público feminino mais uma vez é o mais acometido, devido à correlação com a SDTM por isso só foi citado agora. Essa disfunção é diferenciada por apresentar aspectos de ciatalgia, que geram alterações biomecânicas singulares, seus sintomas são: dor à palpação na região do túber isquiático, dor no trajeto do n. ciático (sem alterações eletroneuromiográficas), fraqueza na RL, dor ao subir superfícies inclinadas e escadas, dor ao permanecer sentado sobre os ísquios e rigidez na amplitude passiva.

Formas de diagnóstico?

A Síndrome Dolorosa do Trocânter Maior o diagnóstico é clínico, através do teste de Trendelenburg e o teste de Beatty, porém em casos específicos é feito exames de imagem, os mais precisos são a Ultrassom e a Ressonância Magnética. Já na Síndorme do Piriforme o diagnóstico é puramente clínico, fazendo uso de testes especiais ortopédicos porque como disse anteriormente existem sinais de ciatalgia, porém não há alterações eletroneuromiográficas, os testes usados são: Freiberg, Pace, Faduri e Beatty.

Descrição dos testes especiais;

  • Teste de Trendelenburg; avalia os músculos abdutores do quadril, em especial o glúteo médio. O paciente deve ser posicionado em ortostase, de costas para o examinador. A partir daí, solicita-se que realize a flexão do joelho do lado contralateral ao avaliado. Situação normal é a manutenção do equilíbrio pélvico às custas da contração dos abdutores do quadril apoiado. Em caso de insuficiência abdutora, a bacia se inclina para baixo, para o lado não apoiado.
  • Teste de Beatty; avalia a inflamação e fraqueza de piriforme, existem duas formas de realizar o teste:
    1º- Paciente em decúbito lateral, bem próximo da ponta da maca, flete o quadril (como se fosse cruzar a perna do paciente), fisioterapeuta força a perna cruzada para baixo. Se o paciente sentir dor na região o teste é positivo.
  • 2º- Paciente em decúbito dorsal, flete um joelho, fisioterapeuta faz força para adução e solicita ao paciente que faça a abdução contra a resistência manual do fisioterapeuta, o teste é positivo se o paciente sentir dor na região do piriforme.
  • Teste de Freiberg; utilizado para avaliação do músculo piriforme. Com o paciente em decúbito dorsal e os membros inferiores estendidos em discreta abdução, o examinador realiza a rotação interna máxima do membro avaliado. No caso de síndrome do piriforme, o teste pode desencadear dor glútea, associada à ciatalgia.
  • Teste de Faduri; representa o movimento combinado de flexão, adução e rotação interna do quadril avaliado. Com o paciente em decúbito dorsal, o examinador realiza flexão do quadril até 90°, adução e rotação interna máxima. Na presença de doença intrarticular do quadril (ex: impacto femoroacetabular, osteoartrose, lesão do ligamento redondo, fraturas por stress da cabeça/colo femoral) nota-se a diminuição na amplitude de rotação interna do quadril em relação ao lado assintomático e a presença de dor, tipicamente inguinal. Em pacientes com síndrome do músculo piriforme, esse teste pode desencadear dor glútea, pois ocorre tensionamento do músculo piriforme.
  • Teste de Pace; utilizada para o diagnóstico de síndrome do piriforme. Com o paciente sentado na maca com as pernas pendentes, o examinador solicita que seja realizada abdução dos quadris contra resistência. A presença de dor glútea está presente nos pacientes com síndrome do piriforme.

            De fato, essas duas síndromes são relacionadas nesses praticantes de pedestrianismo e caminhadas então caso não haja um acompanhamento especializado ou encerramento precoce do acompanhamento pode acontecer um avanço de um caso pra outro piorando o quadro clínico e aumentando o tempo de retorno para a prática da atividade, em uma futura postagem podemos abordar formas e estratégias de tratamento com esses casos e também outras afecções que acometem os praticantes de pedestrianismos e caminhada.

 

Obrigado.

Dr. Renan Justino

Referências Bibliográficas:

 

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