Como Avaliar e Tratar a Criança com Distúrbios Ventilatórios
A avaliação do bebê e da criança com distúrbios respiratórios deve incluir, além da ausculta, sinais vitais, saturação de oxigênio, gasometria e espirometria, dados relativos ao funcionamento biomecânico do Sistema Respiratório, tais como: padrão respiratório, assincronismos e distorções toracoabdominais.
Além disto, é necessário profundo conhecimento da postura e do movimento em diferentes etapas do desenvolvimento para que seja possível recuperar a coordenação entre a respiração e outras atividades funcionais.
É essencial detectar as seqüelas posturais das doenças respiratórias agudas e crônicas, entre elas: elevação das costelas e do esterno, descurvatura das costelas, impactação da coluna vertebral, elevação dos ombros, encurtamento do pescoço, cifoses costais localizadas, aumento das lordoses cervical, lombar e lombo-sacra, retração das costelas e do esterno, assimetrias torácicas e alterações da tonicidade e da força da parede abdominal.
A instalação de um ou alguns destes componentes de bloqueio respiratório impede a atuação sinérgica dos músculos respiratórios e favorece o aumento do esforço e do gasto de energia. A avaliação abrangente do padrão respiratório e postural, além de fornecer subsídios para o prognóstico, facilita a compreensão de suas repercussões clínicas e da conduta a ser tomada para reverter o quadro.
Quando o bloqueio respiratório não é tratado, a criança tende a ser mais secretiva, apresentar infecções respiratórias de repetição, ter dificuldade de coordenação entre a respiração e a deglutição (maior facilidade para bronco aspirar ) e a ser limitada em relação a sua capacidade para o exercício. Como o tratamento fisioterápico da criança com distúrbios respiratórios depende de uma indicação médica, a abordagem global da criança será possível, somente quando a indicação for precoce e enfatizada a necessidade de continuidade do tratamento até que as seqüelas sejam minimizadas e as funções recuperadas.
Doenças crônicas devem ser cronicamente tratadas para evitar a instalação de seqüelas e suas possíveis interferências nos mecanismos normais de defesa pulmonar.
A avaliação e a conduta terapêutica de médicos e fisioterapeutas devem apontar para a coordenação de ações respiratórias e posturais.
Desta maneira a criança poderá, de forma qualitativa, manifestar suas aptidões lúdicas, artísticas, desportivas, afetivas e de aprendizagem. Em respeito ao paciente, é necessário evitar a máxima de que os fins justificam os meios, descartando técnicas invasivas que produzam alterações negativas dos parâmetros ventilatórios, principalmente as técnicas que utilizam a compressão da parede torácica. As técnicas compressivas são particularmente inadequadas em pacientes que possuem pouca estabilidade da parede torácica e baixa complacência pulmonar.
Estudos científicos têm indicado que pode haver formação de atelectasias como consequência de compressões torácicas(7).
Além disto, é necessário avaliar se estas técnicas produzem aumento da pressão intracraniana, sobretudo nos bebês prematuros. Na abordagem inicial e durante todo o tratamento é essencial o estabelecimento de um vínculo afetivo entre a criança e o terapeuta.
A criança precisa ter certeza que vai encontrar apoio, acolhimento e segurança em um momento especial, no qual tem dificuldade de manter a respiração que é sua mais forte relação com a vida.
O respeito a estes princípios pode facilitar o trabalho, apontar soluções criativas, e tornar muito prazeroso o momento da terapia e seus resultados, tanto para a criança quanto para o fisioterapeuta.

Leitura Recomendada
- Edwards RHT, Faulkner J. Structure and function of the respiratory muscles. In: Roussos C, Macklem PT, editors. The thorax, part A. New York: Marcel Dekker; 1986. p. 297-326.
- De Troyer A, Estenne M. Coordination between rib cage muscles and diaphragm during quiet breathing in humans. J Appl Physiol 1984;57:899-906.
- Celli BR, Rassuolo J, Make B. Dyssinchronous breathing associated with arm but not leg exercice in patients with chronic obstructive pulmonary disease. N Engl J Med 1986; 314:1485-1490.
- Puckree T, Frank C, Beverly B. Abdominal motor unity during respiratory and nonrespiratory tasks. J Appl Physiol 1998 84(5): 1707-15.
- Konno K, Mead J. Measurement of the separate volume changes of rib cage and abdômen during breathing. J Appl Physiol 1967; 22:407-22.
- Miyoshi MH, Guinsburg R, Kopelman BI. Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém nascido. In: Kopelman BI, Miyoshi MH, editors. Distúrbios Respiratórios no Período Neonatal. São Paulo: Atheneu; 1998. p. 63-74.
- Platzker ACG and cols. Thoracoabdominal compression and respiratory system compliance in HIV infants. Am J Respir Crit Care Med 2000;161:1567-71.