Biomecânica do Atleta de Baseball, a relação do alto índice de lesões e a importância da intervenção Fisioterapêutica.

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Baseball

Neste ano, o Brasil recebeu o Pré Pan-Americano de Baseball da categoria Adulto, e a nossa seleção busca a classificação para os jogos Pan-americanos  que acontecerá em Lima. Os atletas estão trabalhando duro para representar nosso país. O Brasil tem se familiarizado com termos como “pitcher” (arremessador), e conhecemos cada vez mais esse esporte.

 

Vamos entender o que ocorre no corpo do atleta de baseball

Como em qualquer esporte, o corpo é exigido a nível de um atleta de alto rendimento. O arremesso no baseball é um dos movimentos mais rápidos conhecidos e é exigida grande força e torque no membro superior, e devido a essa alta exigência, cerca de 46% a 57% dos arremessadores são acometidos por dor no ombro e no cotovelo.

 

O ARREMESSO

O arremesso/lançamento do baseball é descrito como uma atividade anaeróbia do ponto de vista bioenergético, com curtos tempos de recuperação. Arremessar é um movimento que necessita de transferências de forças. Esse torque é gerado, em grande parte, pelos membros inferiores e o tronco e, em seguida transmitida ao membro superior e enfim, para a bola.

Então, conforme as fases do arremesso passam, a energia criada pela cadeia cinética proximal (membros inferiores e tronco) é transferida para cadeia cinética distal (ombro, cotovelo, punho e mão).

O movimento pode ser dividido em 6 fases, sendo que cada fase apresenta uma função específica:

(1) Wind-up: Esta fase posiciona o corpo em preparação para geração de força. As mãos são reunidas para o peito e arremessador levanta a perna principal

(2) Stride: Inicia a geração de velocidade através de avanço linear e posiciona o braço na posição de armar, o pé de base permanece enquanto o outro avança e descendo, com o quadril e o joelho se estendendo.

(3) Cocking: Transfere energia do membro inferior e do core em energia potencial armazenada na cápsula do ombro. O ombro permanece aberto a 90 ° rodando externamente até 180 ° através de  articulações glenoumerais e escapulotorácicas. O tronco gira recebendo a energia transferida da pelve. No final desta fase, o torque rotacional do ombro e pico de torque do cotovelo valgo. É neste momento no campo que pode ser crítico para rupturas anteriores posteriores labiais superiores e do ligamento colateral ulnar.

(4) Acceleration: Transfere toda a energia gerada. O ombro gira internamente usando a energia potencial armazenada dentro da cápsula articular, bem como força de explosão dentro dos músculos rotadores internos do ombro. O cotovelo se estende e o punho flexiona, conferindo maior velocidade à bola.

(5) Deceleration: Diminui o movimento do braço começando com liberação de bola. O braço continua a girar internamente, embora com velocidade angular diminua. Picos de força de compressão aumentam e o manguito rotador resiste ao momento de distração do braço.

(6) Follow-through: Retorna o corpo para posição de campo.

Fonte: The Relationship Between Pitching Mechanics and Injury: A Review of Current Concepts. Sports Health: A Multidisciplinary Approach.

 

Mecânica de arremesso e Lesões

Estudos biomecânicos de arremessadores colegiados e profissionais relacionam que uma biomecânica ruim e a grande quantidade de arremessos podem levar a falhas cinemáticas e aumento das forças cinéticas, o que impactam no risco de lesões. Por isso, fatores cinemáticos com análise de movimento são importantes para prevenção de lesão.

O arremesso é um movimento balístico repetitivo de alta intensidade que pode  levar à fadiga muscular e à perda do controle dos músculos do ombro durante o processo de arremesso. A fadiga contribui para diminuição na função do sistema sensório-motor e pode levar a maiores tensões em músculos estabilizadores devido às altas velocidades e forças produzidas durante o movimento. Quanto maior a velocidade do arremesso associada à fadiga, maior a chance de lesões.

A EUA Baseball, Little League America e Major League Baseball  desenvolveu diretrizes baseadas em idade, a contagens de repouso e o pitch (arremesso). Estas diretrizes focam na mecânica apropriada para reduzir o torque do ombro e do cotovelo, sendo ainda a periodização dos treinamentos considerada uma forma eficaz de método de treinamento e recuperação de atletas.

 

Recovery

Durante a fase de recuperação dos atletas ocorre a restauração dos substratos utilizados durante o  exercício, reparo dos tecidos, reorganização da resposta do sistema imunológico e do estresse oxidativo.

Quando os atletas são exigidos ao extremo, pode ocorrer o overtraining o que impede o organismo de manter o estado de homeostase (equilíbrio) e influencia diretamente no seu desempenho, aumentando os estresses fisiológicos e psicológicos, e o risco de lesões. Cada atleta se recupera de maneira única, sendo um processo inter e intraindividual (psicológico, fisiológico e social).

A recuperação desses atletas envolve recursos a fim de acelerar o tempo para a recuperação do corpo, restabelecer as habilidades de desempenho em campo e reduzir o risco de lesões. Estudos recentes indicam técnicas de terapia manual, recursos de termofototerapia, estimulação elétrica, nutrição, terapia e abordagem na higiene do sono como estratégias que podem ser utilizadas no processo de recuperação pós-jogo ou pós-treinos.

No baseball  é de extrema importância, os jogadores, treinadores, comissão e equipe médica trabalharem juntos. A abordagem de múltiplos profissionais como médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, nutricionistas e psicólogos, melhora de forma significante e consistente o desempenho de atletas em campo.

 

Referências:

Warren, C. D., Szymanski, D. J., & Landers, M. R. (2015). Effects of Three Recovery Protocols on Range of Motion, Heart Rate, Rating of Perceived Exertion, and Blood Lactate in Baseball Pitchers During a Simulated Game. Journal of Strength and Conditioning Research, 29(11), 3016–3025.doi:10.1519/jsc.0000000000000487 

Fleisig, G. S., Laughlin, W. A., Aune, K. T., Cain, E. L., Dugas, J. R., & Andrews, J. R. (2016). Differences among fastball, curveball, and change-up pitching biomechanics across various levels of baseball. Sports Biomechanics, 15(2), 128–138.doi:10.1080/14763141.2016.1159319 

Chalmers, P. N., Wimmer, M. A., Verma, N. N., Cole, B. J., Romeo, A. A., Cvetanovich, G. L., & Pearl, M. L. (2017). The Relationship Between Pitching Mechanics and Injury: A Review of Current Concepts. Sports Health: A Multidisciplinary Approach, 9(3), 216–221.doi:10.1177/1941738116686545 

Weber, A.E., Kontaxis A., O’Brien S.J., Bedi A. (2014). The Biomechanics of Throwing: Simplified and Cogent. Sports Med Arthrosc Rev. 22(2), 72-79.doi: 10.1097/JSA.0000000000000019

 

Este artigo foi escrito pelo departamento de Fisioterapia da Clínica La Posture. Acesse o site e conheça o trabalho: https://www.clinicalaposture.com/

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