Idoso de 77 anos se forma em fisioterapia, após quase infartar

ray4

A voz é firme, a disposição física pulsante e o espírito aventureiro. Soteropolitano, Raymundo Magalhães coleciona uma série de características comumente relacionadas aos jovens de pouca idade. Aos 77 anos, entretanto, surpreende pelo vigor. “Se Deus permitir, vou até aos 120”, estima ao ostentar a conquista mais recente, o título de graduado em fisioterapia, obtido há menos de um mês.

Casado e pai de três filhos, Raymundo se reinventou aos 72 anos de idade. Aposentado e mergulhado nas atividades do lar, foi incentivado por um dos filhos a ingressar em um curso superior. “Meu pai se aposentou muito cedo, aos 49 anos. Durante um tempo, começou a cuidar dos serviços domésticos, enquanto a minha mãe ainda trabalhava. Estava sentido que ele estava cada dia mais triste, logo ele que sempre foi uma pessoa tão ativa”, lembra o filho Cícero Guimarães, de 45 anos.

Raymundo detalha que se aposentou após 30 anos de contribuições previdenciárias. No período, decidiu cuidar da casa, de modo a incentivar a esposa a conquistar alguns sonhos. “Ela sempre foi uma mulher muito inteligente. É uma pedagoga, uma psicanalista fantástica. Excelente palestrante. Abdiquei de algumas oportunidades para ela crescer na carreira. Ela é mulher incrível, que sempre quis ajudar as pessoas”, destaca com o orgulho o apoio.

Com cursos técnicos em áreas como massoterapia e quiropraxia, Raymundo foi incentivado pelo filho a prestar vestibular para fisioterapia.

“Ele riu e disse que não iria passar. Eu fiz a inscrição, ele fez a prova e quando saiu o resultado vimos que ele foi o segundo melhor colocado. Ele deu uma risada tão espontânea. Uma mistura de choro com riso”, lembra Cícero sobre o recomeço do pai.

Quando jovem, Raymundo chegou a cursar engenharia eletromecânica, mas abandonou a graduação quando decidiu se casar. “Apareceu uma princesa na minha vida. Nos apaixonamos e nos casamos. Ela veio do agreste de Pernambuco e apareceu no Engenho Velho de Brotas [bairro de Salvador]. Eu gostava muito de passear e sempre passava diante da casa onde ela morava. Um dia, eu disse: vou me casar com aquela menina lá em cima. Depois, descobri que ela já tinha o mesmo plano”, disse aos risos.

É uma vitória maiúscula para mim e para a minha família. Conquistei muito mais do que sonhei.
Raymundo Magalhães,
fisioterapeuta

Diante das novidades, que fazem parte do ciclo da vida, Raymundo voltou à faculdade aos 72 anos. “Na prática, eu já dominava muitas coisas que os professores explicavam. Ainda assim, o ganho técnico foi muito grande. Não tem como dimensionar. No início, os professores pareciam barreiras, mas foram extraordinários”, lembra.

Durante o curso, sentiu alguns olhares de estranhamento. “Havia rejeição de alguns coleguinhas. Acho que pensavam: o que esse velho está fazendo aqui. Surpreendentemente, saí muito antes do que eles esperavam”, diz orgulhoso.

No meio da graduação, um problema de saúde afastou Raymundo das salas de aula. No dia 12 de setembro de 2012, sentiu um cansaço estranho. Foi a um instituto médico e acabou ficando por lá durante 30 dias. Ele apresentava características sintomáticas de pré-infarto. “Fizeram duas pontes de safena e uma mamária. Hoje, estou bem. Claro que procuramos fazer sempre um pouco menos de esforço, mas parar nunca. A vida é movimento”, defende.

O problema de saúde não afastou o estudante das salas de aula. Cícero, o filho que indicou o curso de fisioterapia, enxergava tudo como inspiração. “Quando era jovem, meu pai dizia: estude com gosto de gás. Eu não era muito estudioso, cheguei a perder um ano. Hoje, entendemos o que ele queria dizer. Ele se envolveu nos estudos com firmeza e determinação. Estudava até as 23h”, destaca.

A colação de grau ocorreu no dia 22 de julho deste ano. Ao lado da família, estendeu com orgulho o canudo de formação.

Antes técnico em atividades como massoterapia e quiropraxia, Raymundo já mantém clientes cativos em municípios como Jacobina, Irecê, Várzea da Roça, Capim Grosso, Feira de Santana e Morro do Chapéu. Nas viagens para atender os pacientes, está sempre ao lado da esposa. “Viajo, participo de caminhada, malho. Em tudo, estamos sempre juntos: eu e a minha namorada”, fala sobre a relação com esposa, Cleonice Magalhães, com quem divide a vida há 55 anos.

Cícero, um dos três filhos do casal, diz que a experiência do pai é estimulante. “A lição que se extrai disso tudo é que que não há limites. A humanidade está muito acostumada a se autolimitar. Isso determina onde você vai. Existe a teoria das crenças autolimitantes, a idade é uma delas. Se você crer que só vai até aqui, você só vai até aqui. Entretanto, não há limites quando você quer ir longe”, afirma.

Emocionado, Raymundo Magalhães conclui que nenhuma conquista teria sido possível sem o amor dos filhos e cumplicidade da esposa. “É uma vitória maiúscula para mim e para a minha família. Conquistei muito mais do que sonhei. Por tudo, tenho que agradecer a Deus, que é quem nos habilita”, atesta.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *