Fisioterapia: a sexualidade e as disfunções sexuais femininas
A saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) é entendida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades”. Sendo assim, ao se falar de saúde sexual não poderia ser diferente, a sexualidade deveria ser compreendida como uma possibilidade de ter experiências sexuais seguras e prazerosas, livres de coerção, discriminação e violência.
A sexualidade é uma energia que nos motiva para encontrar o amor, contato e intimidade; integra-se no modo como nos sentimos, movemos, crescemos, tocamos e somos tocados. Consequentemente tem influência em nossa saúde física e mental, podendo desencadear aborrecimentos principalmente por intervir em todos os fatores de qualidade de nossas vidas: educação, lazer, família, trabalho, espiritualidade e o ambiente em que vivemos.
Infelizmente, ainda para muitos é um tabu conversar sobre sexo, mulheres e principalmente os homens têm receio de questionar sua sexualidade, aproveitá-la ou tratá-la (caso necessário). Todavia, disfunções sexuais tem tratamento, de maneira multidisciplinar e com ótimos resultados.
Disfunção sexual feminina (DSF) é considerada a dificuldade persistente ou recorrente para atingir o ciclo de resposta sexual, que causa desconforto e angústia pessoal. Nas mulheres, as disfunções sexuais são:
- Transtorno do desejo sexual: quando a mulher apresenta diminuição ou até mesmo ausência total de fantasias e desejo da atividade sexual.
- Transtorno de excitação: é a incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter a lubrificação vaginal e turgescência até o final do ato sexual.
- Anorgasmia: atraso ou ausência recorrente ou persistente de atingir o orgasmo.
- Aversão sexual: quando a mulher evita o sexo por sentimentos de repulsa, ansiedade ou medo.
- Disfunção sexual devido a uma condição médica: problema orgânico que gera problemas sexuais; exemplo: diabete melito.
- Disfunção sexual Induzida por substâncias: quando há um problema sexual pelo uso de algumas substâncias; exemplo: uso de antidepressivos.
- Disfunções sexuais por dor:
- Dispareunia: dor genital associada ao ato sexual.
- Vaginismo: contração involuntária dos músculos vaginais que impedem a penetração do pênis, dedo, espéculo ginecológico ou mesmo um O.B. A mulher não consegue controlar o movimento de contração, apesar de desejar o ato sexual.
- Dores sexuais não coitais: dor genital ou extragenital, recorrente ou persistente, induzida por estímulos sexuais sem a necessidade da penetração; podendo ser provenientes de endometriose, prolapsos genitais, infecções vaginais etc…
- Incontinência urinária ao coito: perda de urina durante a relação sexual, atrapalhando não apenas o desejo como também o orgasmo.
- Dor pélvica crônica: dor que se manifesta na região pélvica, podendo surgir por diversas formas e por um período de 6 meses ou mais. Pode ser proveniente de infecções urinárias de repetição, constipação, endometriose, dor lombar e muitas outras causas (condição complexa que merece uma coluna exclusiva, futuramente – prometo).
De acordo com estudos realizados aqui no Brasil, a prevalência de disfunções é mais alta do que se imaginava, sendo:
- Anorgasmia: 26,2%.
- Dispareunia: 17,8%.
- Dificuldade de excitação: 26,6%.
- Desejo sexual hipoativo: 9,5%.
A DSF poderá estar associada às experiências sexuais negativas, baixa autoestima, história de abuso sexual, depressão, transtorno alimentar e de personalidade, sintomas pré-menstruais, doenças neurológicas e alterações físicas (nesse caso quando a mulher apresenta alguma mudança em seu assoalho pélvico ou órgãos pélvicos os quais possuem importante função sexual).
Segue algumas condições físicas para dor vaginal:
Endometriose | Causa predominante de dispareunia em mulheres pré-menopausadas |
Doença inflamatória pélvica | Aderências abdominais com dor crônica, inclusive dispareunia profunda |
Deficiência estrogênica | Causa comum de dispareunia em mulheres pós-menopausadas devido à atrofia vulvovaginal |
Prolapso de órgão pélvico, incontinência urinária | Parece não afetar a função sexual, mas as pacientes deveriam ser informadas sobre os impactos negativos depois da cirurgia |
Cistite intersticial | Comum em pacientes com dispareunia |
Mutilação genital feminina | Além da dispareunia, causa outros efeitos adversos à saúde de muitas mulheres |
Terapia para câncer ginecológico | Radiação e quimioterapia pélvica causam fibrose e atrofia do trato genital, dificultando a lubrificação e causando dispareunia |
Quimioterapia para câncer | Causa atrofia da mucosa vaginal; terapia local estrogênica deve ser cautelosa em mulheres com câncer de mama |
Doença do enxerto contra hospedeiro | Efeitos adversos na vagina depois do tratamento sistêmico imunossupressivo |
Malformações | Septum vaginal, anormalidades congênitas |
Hidradenite supurativa | Cicatrizes crônicas em casos severos |
Mioma uterino | Dor por pressão na bexiga e no intestino, principalmente dispareunia profunda |
Síndrome da bexiga irritável | Comorbidade em mulheres com vulvodinia localizada provocada |
Radiação pélvica | Causa atrofia, diminuição da lubrificação, secura, dispareunia superficial e profunda |
OK! E onde a fisioterapia entra? Com os objetivos de identificar, prevenir e tratar, é realizada primeiramente, uma avaliação fisioterápica minuciosa, contendo anamnese e avaliação física – sim, pode ser um pouco incômoda e invasiva; porém é de extrema importância – para que o profissional tenha mais acesso e certeza de um diagnóstico, para então, traçar uma linha de tratamento exclusiva e individual para cada mulher.
Os recursos fisioterapêuticos serão de acordo com o diagnóstico e o tempo que cada mulher terá para se adaptar ao tipo de tratamento, sendo respeitada e ouvida durante todo caminho.
- Correções articulares.
- Correção postural.
- Liberação miofascial e massagem perineal.
- Reeducação comportamental.
- Cinesioterapia através de exercícios perineais.
- Orientações quanto à vestimenta, posições sexuais, cuidados com a higiene e exercícios domiciliares.
- Uso de dilatadores vaginais tanto durante a sessão quanto sozinha em seu domicílio.
- Eletroterapia superficial, anal ou vaginal.
Lembramos que a abordagem precisa ser interdisciplinar, com médicos, nutricionistas, psicólogos e nós! Garantindo assim, maior qualidade de vida e maior saúde sexual.